sexta-feira, 16 de junho de 2017

Café com Letrinhas.


É dia de Feira!!

Aconteceu, em 30 de Abril de 2017, a II Feira ZICA – Seja marginal, seja ZICA!
A Feira ZICA – Zines e Impressos de Cultura Alternativa é um evento anual realizado em Sorocaba, interior de São Paulo, que tem como objetivo valorizar as artes visuais impressas e autorais e artistas locais, propiciar o debate sobre a produção de cultura alternativa e estimular a troca de experiências. Em sua segunda edição, emprestamos a frase de Hélio Oiticica “Seja marginal, seja herói”, num convite a relembrar que arte possui uma dimensão ética, política e social. A frase de Hélio Oiticica ainda ressoa. A denúncia é necessária e urgente: à publicidade vendida, à mídia manipuladora, à hipocrisia, covardia e mediocridade, às mortes de inocentes que ainda acontecem ao nosso lado, ao roubo de nossas vidas.



Através de inscrições, selecionamos 42 artistas e coletivos e 6 apresentações que se relacionavam de alguma forma com o tema. Muitos/as artistas não compareceram. Rs. E talvez caiba falar sobre, sabemos que isso acontece em muitas feiras e acredito que mostra uma falta de comprometimento que é reflexo de uma sociedade que desvaloriza a cultura. Buscar a valorização, tanto no sentido financeiro quanto profissional, e até mesmo emocional e de respeito para com a sua produção implica em assumir responsabilidades, investir energia ~ e grana ~ e sabemos o quanto é, de fato, um luta muitas vezes. A ZICA é uma iniciativa independente, sem apoio de instituições públicas ou privadas, que não cobra taxa de participação, e apesar de cobrar $5 de portaria para remunerar as apresentações e organização do evento, tem sido um grande corre que fazemos mais por amor à causa do que qualquer coisa. Acreditamos que a arte é um meio para construir novos caminhos, acreditamos no seu poder de transformação da realidade. Acho que precisamos acreditar.
Apesar dos pesares, tivemos 28 artistas e coletivos, que trouxeram desde os lambes e arte de rua, fotografias, posters, prints, adesivos, revistas, entre outros. Lennon trouxe poemas eróticos – já rejeitados por gráficas – enquanto Black Phillip mostrou seu trabalho sobre demonologia! O coletivo SóMinas que produz conteúdo contra a cultura do estupro, a Alarme Feminista, que busca construir espaços de debate, e a VELHA, revista bem humorada sobre o universo feminino, representaram a luta das mulheres. (A)colhendo Pedras, Discordia, Flávia Aguilera e Lígia Mazzer somaram com a cultura de rua, lambes e arte urbana. E muitas/os outras/os, abordando temas como o ser artista, o caos, a cidade, nosso contexto sócio-político e utopias.


O local ocupado foi o Ateliê Previsto, espaço amplo localizado próximo à rodoviária, que vem realizando eventos, conversas e práticas artísticas. A discotecagem ficou por conta do Rái Mein, personalidade sorocabana especializada em sonzeras dark, 80’s e afins, que cumpriu muito bem o desafio de nos mostrar todo o seu repertório, incluindo samba, rap, brasilidades, e diversos estilos que animaram a galera do início ao fim da feira!
Além das vendas e trocas rolando, a Mesinha propunha a troca e/ou doação de impressos, nessa ideia de reaproveitamento, anti-consumo e aproximação entre as pessoas. Nessa edição recebemos zines de Rodrigo Semfim e apareceram lambes, marca páginas, zines e livros.


Às 16h fomos abaladas/os com a declamação de poemas de Evandro Aranha, que falou com a boca, com o corpo e principalmente com o coração sobre amor, preconceito, cotidiano e política. Seguimos com uma apresentação imprevista do João Maresia, ou JJ The Wave, o maior admirador de Belchior que eu conheço. Belchior partiu dessa para uma melhor naquele dia, logo a apresentação foi carregada de emoção, e Luiz Terra aproveitou a tensão e ambiência sonora para intervir com algumas palavras e lavar a alma.
Nesse clima, tivemos Leila, projeto de Bruno Tchrmann que gira em torno da cultura musical do terceiro mundo, em especial do oriente médio e sudoeste asiático e os vídeos críticos de Vine Ferreira. Rolou a estreia do Concerto Psicomagnético de Ziur Muzik, projeto de Peterson Ruiz, com emissão de ruídos magnéticos provenientes de aparelho de som, Buzzerbox e bateria eletrônica, tentativas de obtenção de sonoridades inusitadas. Doce de Jeca, banda que experiencia dentro de ritmos como o coco, afoxé e moda de viola; formada por quatro mulheres, se empoderam através da música e pretendem empoderar e articular mulheres também.



Para finalizar, ainda que a maior parte do público já tivesse ido pegar o busão para voltar pra casa domingo a noite, a brava apresentação de dança de Juia Gomes não foi menos brilhante, materializando para quem estava lá que arte vai além de quantidade, e até além de aplausos.

Há quem siga querendo ser estrela, há ainda quem seja resistência.